27 de dezembro de 2009

Sobre passar o rodo

Estive afastada por um tempo para me dedicar a uma pesquisa, meu objetivo era conhecer a fundo a Malandragem das Ruas, que consiste em um conjunto de técnicas responsável por fazer com que em uma festa, quando você e a Juliana Paes estiverem flertando com o mesmo mocinho, a Juliana pareça invisível.
A precursora dessas técnicas dividiu experiências comigo e me ensinou grandes lições, hoje ela já não põe em prática, pois está feliz ao lado de um dos alvos de sua Malandragem.
Se eu fosse colunista da Capricho daria dicas de como obter a Malandragem das Ruas, dicas que ajudariam meninas que já foram trocadas por grandes toupeiras acéfalas, e se algum menino lesse a revista da irmã também aprenderia a ter mais atitude. É uma pena que eu não seja colunista da Capricho, e é uma pena que por aqui não exista público-alvo para esse tipo de texto/tutorial.
Ainda sou leiga no assunto, testarei as técnicas durante o resto do verão, por enquanto posso afirmar que os resultados são positivos, mas a Malandragem não resolve todos os problemas do mundo.
- Sabe Mi, eu tenho apenas dois medos na minha vida, um deles é de me casar, o outro é de nunca me casar.

24 de novembro de 2009

Ação entre amigos

- Então, parece que o Zé Mayer saiu com uma história que o Mundo vai acabar em 2012.
É, amiga dona de casa, se a teoria é dele ou não, eu não sei, mas sei que estamos vivendo o fim dos tempos.
Animais que antes viviam tranquilamente em minha cidade, como os pinguins e as adoráveis foquinhas, começaram a sofrer com o calor. Bichinhos que ninguém conhecia, tipo os pernilongos, começaram a adentrar nossos lares. As pessoas estão assustadas, procurando médicos, pois não sabem do que se trata esse líquido transparente e salgado que sai de suas peles.
Eu gosto do calor, mas o senhor que mora na casa da frente não gosta, ele tem se irritado fácil.
Mas nem que eu tenha que rifar minha plaquinha do Tótis Bar para ajudar a pagar as multas, não permitirei que esse problemático senhor expulse os vizinhos do apartamento de cima. Porque eu não entendo, não entendo como ele alega não conseguir dormir devido ao barulho. Que barulho? Eu juro, pela alma da Fifi, que nunca me incomodei com o barulho, aliás, nunca percebi o barulho.
Eu sei que a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena, mas senti uma vontadezinha de presenteá-lo com uma boneca da Xuxa. No momento em que ele fosse pentear a linda boneca e percebesse que os olhinhos dela são vermelhos e sangram de vez em quando, ele diria "olá" ao fim dos tempos.

9 de novembro de 2009

Claustrofobia

Segundo a sábia astrologia, hoje é meu último dia de inferno astral, que bom, porque eu percebi mesmo que minhas unhas estavam quebrando com muita facilidade nos últimos tempos, no mais não notei diferença, a não ser nas duas vezes que tive que entrar em um elevador, aquele meio de transporte é ridículo, fechado, sem ar, e caso a energia elétrica acabe não existem pilhas para emergências, a pessoa morre sem ar.
No tempo em que estava no elevador, tentei me concentrar em alguma outra coisa, e cheguei à conclusão de que a minha meta até maio do ano que vem é entender de futebol, tenho me empenhado para isso, já sei o nome de um jogador do meu time, sei também que existem estratégias, que os jogadores não apenas correm com a bola desesperadamente até o gol, mas eles são obrigados a passar a bola para os colegas.
Pois é, amanhã começa uma nova era, com unhas mais fortes, mais paciência, e principalmente mais amor ao meu time, porque é como diz a canção:
“Salve o Flamengo, campeão dos campeões.”

16 de outubro de 2009

Terra fértil

Antes eu me alimentava direito, tomava banho regularmente, tinha uma vida consideravelmente normal, até que descobri, neste nefasto mundo da Internet, uma simpática fazendinha que discretamente me seduziu e agora consome boa parte do meu tempo.
Preciso plantar milho, batata e cenoura, já não tenho tempo para relações sociais. Não me sobra tempo para ligar para meu querido pai biológico e pedir com educação que ele pare de procriar, afinal não me sinto bem ao andar pelas ruas da cidade sabendo que o indivíduo que me entrega um folheto pode ser um de meus muitos irmãos.
Preciso furtar milho, batata e cenoura, não me sobra tempo para ligar para minha linda mãe e perguntar por quê afinal, tenho a cabeça comprida. Por que na rua me chamam de "Cabeça de Snoopy"? Não, na verdade eu não ligo. Apenas me importo com a minha fazenda e com os meus rins. Ficarei aqui cuidando da minha colheita, até sentir uma pontada e perceber que preciso de um rim novo, somente neste dia começarei a busca pelos meus irmãos.

25 de setembro de 2009

Tatu pai, tatu filho

Eu nunca ouvi da boca da minha mãe a seguinte frase: "Filha, seu verdadeiro pai é o Paul McCartney." Porém isso sempre foi tão óbvio para mim, os traços, a música em minha homenagem, enfim, tenho maturidade para superar isso. Sei que pai de verdade é quem cria, por isso respeito e amo meu pai adotivo, mas estou ansiosa para conhecer, no ano que vem, o meu progenitor.
Hoje em dia é normal não conhecer o próprio pai, acho que estranho mesmo é não conhecer um tatu-bola. Meu Deus! Eu não consigo pensar em outra coisa desde que visitei aquele blog. A autora dizia que ela sentia saudade da infância quando via o suposto tatuzinho. A princípio eu pensei que era uma moça do interior que cresceu no meio dos tatus, mas depois eu descobri que não, que não era do tatu que cavuca buracos que ela se referia, era de um bichinho de jardim que, pelo jeito, todo mundo conhece. Passei a ser meio que excluída e discriminada por não conhecer esse animalzinho. Nunca vi mesmo.
Quando meu primeiro filhinho nascer, quero que o pai biológico esteja por perto, mas antes que a criança seja apresentada ao pai, quero que mostrem a ela um tatu-bola.

11 de setembro de 2009

Dorflex

Apesar de sentir dor em cada centímetro do meu pequeno corpo, me sinto bem mais musculosa que ontem, e para a informação daqueles que apostaram que eu desistiria no primeiro dia, saibam que estou disposta a ir mais uma vez naquela academia, templo da beleza, antro da tortura.
Eu não sei como tem mocinhas que se embelezam para ir paquerar os gatinhos bombados da academia, eu prefiro que eles não me enxerguem naqueles aparelhos que deixam meu glúteo em evidência ou servem como treinamento para o dia em que eu trouxer uma criança ao mundo. Sinto vergonha.
Sinto vergonha também daquela vovó, minha vizinha de bicicleta ergométrica, a frágil senhora atingia cerca de 50 Km/h, enquanto a jovem aqui não chegava nos vinte. Ninguém vai me obrigar a ir na academia quando eu me aposentar, até minha cadeira de balanço será automática, eu não pretendo trabalhar a vida inteira e depois fazer esforço para dar embalo.
- Vovó, eu vou fazer academia.
- Não, querida, faça plásticas.

25 de agosto de 2009

Dinheiro, carneiro

Eu curtia minha insônia e mais uma vez repartia o dinheiro da Mega Sena. Durante os cálculos pensei que nunca ganhei porque nunca joguei e se nunca joguei a culpa é do sorvete.
Um freezer de sorvete na Casa Lotérica evita novos milionários na cidade, ao menos comigo acontece assim: Eu junto moedas e vou à lotérica, chego lá, olho para o balcão de jogos, olho para o freezer de sorvete, olho para o balcão de jogos e é lógico que prefiro o sorvete.
Com o sorvete a minha satisfação é certa, afinal eu nem tenho tanta certeza assim, que vou ganhar na Mega Sena.
- Moça, vai querer uma raspadinha?
- De limão, por favor.

13 de agosto de 2009

Berros ou cacarejos?

Creio que essas feiras que começam com "Expo" e terminam com as últimas letras da cidade são todas iguais.
Houve uma época que eu ia na exposição para me divertir nos brinquedos mais seguros do parquinho, em outra época eu ia somente para flertar.
Hoje eu não gosto muito de flertar e decidi me arriscar nos brinquedos perigosos do parquinho, em um deles senti minha alma sendo lançada para longe do meu corpo e logo depois voltar como um bumerang.
Mas o que me deixou mais feliz dessa vez foi visitar os animais. Pude conhecer a Lindinha, uma linda Cavalinha (prefiro usar o termo cavala porque, hoje em dia, égua e cadela são palavras ofensivas).
Ela me cativou, tinha uma franja tão bonita, eu já tive franja e nunca ficava boa igual a dela.
No pouco que conversei com a Lindinha, me senti melhor, menos preocupada e mais confiante, ela passava uma energia legal.
Minha amiga também gostou e prosseguimos visitando outros animais.
- Vamos lá onde está escrito "Ovinos". O que são ovinos?
- Acho que são galinhas, vamos ver.

28 de julho de 2009

Barraca do Beijo nunca mais

Graças ao bom Deus acabou a temporada das festinhas caipiras. Se eu quisesse pediria para um analista me ajudar a superar esse suposto trauma, mas não quero, eu gosto de odiar quadrilha, pessoas que se arrumam para ficarem feias e todos aqueles doces de amendoim.
Fora isso, eu gosto de me socializar, acho importante essas confraternizações, só não sei até quando elas existirão. É óbvio que em algum país um vilão pensou: " Os latino-americanos são tão sociáveis, tão hospitaleiros né? Que pena que nós não somos, mas não tem problema, criarei um monstrinho microscópico que dará um jeito nisso. Mu Ha Ha Ha Ha!
E foi assim, agora as pessoas não podem desejar a paz de Cristo com um aperto de mão na Missa para não serem contaminadas. A sociedade ficará cada vez mais fria, se bem que existem aqueles teimosos que não têm medo de doença e gostam de se relacionar.
As pessoas deveriam levar um choque a cada contato físico.

17 de julho de 2009

Tal mãe, tal filha

Uma série de TV Americana abriu meus olhos para o que eu já sabia , um mapa numerológico me aconselhou e me mostrou que eu não sou e nem estou pronta para ser independente, e não falo de explosões na cozinha (nem quero falar sobre isso, ainda me abala muito). O que quero dizer é que apesar de me virar sozinha por aqui, eu preciso dela.
Que apesar de gritar para o mundo que meu amor pela minha avó é inexplicável para a ciência, a importância da filha dela em minha vida é diferente e única.
Que apesar de não concordar com certas ideias e achar que ela deveria se preocupar menos, eu sei que ela sabe que somos parecidas e não quer que eu cometa os mesmos erros.
Que apesar de saber que juntas brigamos o tempo todo, longe sinto saudade, e quando sinto saudade, olho no espelho, jogo o cabelo um pouco para o lado e a vejo.
Que apesar de mudar meus planos constantemente, em todos eles o principal objetivo é fazê-la feliz.

12 de julho de 2009

I'm thinking about the future

Um amigo me disse, há poucos minutos, que tem evitado passar em frente ao Banco Itaú, porque tem conta lá e por isso tem medo de um dia estar passando e encontrar ele mesmo saindo do banco.
Não soube o que dizer, os americanos com suas produções midiáticas colocaram minhocas na cabeça das pessoas e não serei eu quem vai reverter essa situação, a não ser que eu volte no tempo.
E por falar em tempo, quanto mais o tempo passa, mais difícil fica de acreditar que a Sandy se casou, graças a mais uma rede social que veio para me aprisionar, eu sigo os passos dela. Lá ela conta que cortou as unhas e comeu feijoada, mesmo com tantos afazeres domésticos que a vida de casada exige, ela sempre arranja um tempinho para contar coisas interessantes, um dia ela disse que acha que o Lula não pode se candidatar para um terceiro mandato. Sinceramente, eu gostaria de ser forte como ela, mesmo sabendo que isso não é certo, eu não estou preparada para enfrentar a primeira eleição sem o Lula, desde que eu era um bebê de fraldas engraçadas, ele estava lá em todas as eleições, eu só não queria mais essa lacuna em minha vida.

25 de junho de 2009

Cury

Mais uma vez mergulhei na leitura do autor que infelizmente eu não costumo admitir que amo e até já tirei uma foto com ele. Eu amo esse autor e até já tirei uma foto com ele.
Tal leitura gerou em mim uma revolta. Revolta e medo. Asco pelo sistema, nojinho da sociedade, da mídia, dos padrões insanos de beleza, das máscaras sociais e medo, muito medo da loucura.
Dez minutos após ter descoberto que o polêmico cantor havia falecido, uma janelinha pisca no meu MSN, abro e para minha surpresa era ele, o próprio falecido.
Fiquei chocada ao ler: "Michael Jackson diz:"
Meu Deus, o que ele me diz? Não compreendi, era demasiado enigmático. Em um momento de razão lembrei-me que não havia adicionado ele, só então percebi sua artimanha, ele se utilizou do endereço de um amigo.
Quando comecei a digitar a frase: "O que quer de mim?" observei na janelinha a seguinte mensagem: "Michael Jackson parece estar offline."
É óbvio, os mortos estão offline.

14 de junho de 2009

Úbere

Tenho pensado muito em bichos de estimação. Sim, é de conhecimento de todos que não tenho responsabilidade para cuidar de um bichinho, mas, se por acaso alguém me ajudasse e aos poucos eu aprendesse a lidar com seres vivos, eu gostaria muito de ter uma vaca.
Partilho esse desejo com outra moradora do apartamento, devo dizer que, a princípio, é por interesse, eu gosto muito de leite e não há salário no mundo que cubra minhas despesas com esse alimento fantástico.
Mas apesar de querer muito o leite da vaca, ela será livre e dará leite se quiser. Eu não vou obrigá-la a comer só capim, ela comerá doces também e ouvirá rádio o dia todo para ficar feliz e ligada nos sucessos do mundo em que ela vive.
Assim seremos amigas e no pouco espaço que há no apartamento, ela poderá brincar e se divertir.
- Vaquinha bonitinha, vem aqui vem, prometo não machucar suas tetinhas.

7 de junho de 2009

Adquira já

Estou quase comprando uma caneta espiã. Toda vez que entro na internet ela surge implorando para que eu a possua. A tentação é grande e a carne é fraca, sei que em breve clicarei naquele pop-up e farei a melhor aquisição da minha vida. Com minha caneta descobrirei o que quero e darei as repostas que outras pessoas anseiam. Assim ficarei rica e dominarei uma parte do mundo.
Gosto de missões secretas.
Uma vez tentei fugir em uma missão, era meu aniversário de três anos, minha personalidade já estava formada e eu não compreendia por quê a tentativa de agradar a vizinhança com guloseimas, fazer gracinhas, soprar velinhas e praticar forçadamente meu lado social. Aquilo era demais para mim.
Extremamente pequena e insignificante em uma multidão não foi difícil fugir. Pena que o dia era meu e vez ou outra o fotógrafo procurava por mim. Começaram as buscas.
À léguas de distância e depois de algum desespero me encontraram.
- Michele, pelo amor de Deus, onde você estava indo?
- Goiás.

27 de maio de 2009

Teste oftalmológico

- Michele, nós temos aqui quatro círculos, sendo três fechados e um aberto. Quero que você me diga onde está o círculo aberto.
- Em cima?
- Não.
- Em baixo?
- Não.
- Na esquerda?
- Não.
- Então não sei.

25 de maio de 2009

Maria, você não é uma planta.

Agora não há mais nada que eu possa fazer. Ela se foi, a planta morreu.
Lembro-me de quando a ganhei, foi um presente de formatura, ela era tão delicada. Quando a peguei percebi que ela tinha certo pânico no olhar, parece que sabia que eu não teria responsabilidade suficiente para mantê-la viva e florida.
Nos primeiros dois dias eu dei água, depois esqueci a pobrezinha na minha sacada passando sede, se ela tivesse pernas teria se jogado.
Mas não adianta chorar a planta ressequida. Não quero que isso me faça pensar que não serei uma boa mãe. A planta não era minha filha.
Um dia terei uma filha de verdade, ela se chamará Maria. Terá uma infância feliz e poderá andar descalço quando quiser, não terá aulas de pintura e nem fará natação. Na adolescência ela não será igual as amigas chatinhas dela, terá personalidade, por isso não estranharei quando ela me disser: " Mãe, não quero uma festa de quinze anos, prefiro um galinho que muda de cor quando vai chover."

19 de maio de 2009

Divã

Fale de você até se cansar, mas não me peça para falar de mim. Por que me torturar? O que eu te fiz?
Independente do que eu falar, não é por palavras que irá me conhecer.
Gosto de suco de goiaba, mas não de goiaba. Tenho facilidade em encontrar defeitos nas pessoas, mas só em algumas, em outras, por mais que me apontem, eu não encontro.
Gosto de procurar meu nome nos créditos dos filmes. Penso bastante na minha aposentadoria. Às vezes fujo do presente e vivo o passado ou o futuro, no futuro sempre sou feliz, no passado, nem sempre. Não gosto de dormir no silêncio absoluto. Pretendo praticar exercícios físicos depois dos cinquenta anos. Preciso de alguns personagens para viver em harmonia com os humanos. Classifico as pessoas como coadjuvantes ou figurantes na minha vida. Acredito que roupas estendidas no varal de cabeça para baixo não conseguem respirar. Assim como eu paro de respirar quando falo muito de mim.
Alguém me tira deste varal?

9 de maio de 2009

Espelho

Você fica aí parado me observando, mas sabe, com você eu sou autêntica, às vezes eu nem sorrio ao te olhar, às vezes quando penso em exterminar alguém, é para você que eu olho e respiro violentamente até conseguir fingir serenidade.
Você apoia a vaidade, mas sabe que ela pode ser uma fuga.
E você estava lá quando precisei fugir da maquiagem social.
Você percebe que por fora eu não mudei.
Sinto que quer me dizer alguma coisa, não jogar na minha cara meus erros, mas me mostrar em seu reflexo o que eu não enxergo. Mostrar-me aquele lado bom, dizer o que eu mereço de verdade, você me olha como alguém que sabe do que eu sou capaz.
Nós somos parecidos, somos frágeis.

23 de abril de 2009

Meu nome não é Joey

Não escreverei pouco hoje, preciso desabafar, escrever muito, sinto-me estranha desde o dia em que recebi tantas descargas elétricas.
Foi em outra cidade, há poucos dias, eu tinha feito a unha e machucado as cutículas. Tomada pela compaixão para com a menina que mora sozinha, resolvi lavar a louça, porém não sabia que isso exigiria tanto de mim.
A água da torneira dava choques. Choques reais e torturantes, mas não desisti, senti que aquele era um momento meu, cada descarga elétrica era por um motivo, a cada grito de dor, a voz me repreendia: "Isso é para que você aprenda a ser mais otimista! E isso é para que você seja mais agradecida! E isso é para que perceba que a vida não se baseia em seriados americanos! E isso... É só um choque mesmo."
Ao terminar a louça me sentia mais leve, porém meus nervos ainda se contraíam.
Agora eu começaria a dizer para você não esperar lições de moral de uma torneira, não esperar a vida lhe dar choques... Diria todas essas coisas, mas não quero mais escrever.

14 de abril de 2009

Sazonalidade

Não gosto de textos sobre a Páscoa escritos na época da Páscoa, nem textos de Natal escritos no Natal, até considero bonitos alguns textos de Ano Novo, mas me irrita o fato deles serem escritos no começo do ano.
Quero ignorar as datas impostas pelo sistema, prefiro escrever agora o que estarei pensando no início de 2010:

A Rede Globo caprichou no vídeo de fim de ano e me fez pensar que 2009 me fez crescer, por mais que o espelho me diga o contrário.
Tomei decisões importantes, e não me refiro apenas ao fato de ter passado a comer marmita no trabalho, mas decisões que na época me fizeram sofrer e que realmente não foram impulsivas. Hoje vejo que foi o momento certo. 2009 foi um ano de perdas e conquistas.
O mundo visto de fora da faculdade é diferente, não digo melhor, também não quero dizer que seja pior, é apenas diferente. As pessoas são diferentes.
Descobri que sonhar é tão bom, mas que acordar é tão necessário.
Eu tenho planos para 2010, mas será um segredo meu e dele, afinal só ele decidirá se serão concretizados ou não.
O futuro já começou! Feliz Ano Novo!

4 de abril de 2009

Se a gente quiser ele vai pousar

Ela tinha um monte de cadernos velhos, e nas folhas limpas desenhava. A cada dia era um desenho novo que ela pintava, com todas as cores, mas a cor que predominava era a verde.
O lápis verde já tinha sido apontado tantas vezes, mas ainda existia e coloria sorrisos, carrinhos, pipocas.
Um dia ela acordou e não encontrou o lápis verde, procurou por toda a casa e se deu conta que tinham roubado a caixa com todas as cores.
O pai dela prometeu comprar outra caixinha, mas ele daria um lápis por dia, e só com o passar do tempo ela teria todas as cores novamente.
Ela prometeu que nunca mais daria preferência ao verde, afinal a vida tem todas as cores.

27 de março de 2009

E que a memória nunca se apague

- Fia, é hoje ou amanhã o casamento?
- Nos dois dias vózinha, a formatura é nos dois dias.
Eu só pensava em eternizar aquele momento que acabara de sair do mundinho da minha imaginação. Eu estava lá mesmo, com a roupa comprida, com o chapéuzinho, esperando ser chamada pelo nome, ao lado de pessoas emocionadas que mereciam mesmo estar lá e sendo aplaudida por aqueles que torceram o tempo todo.
No domingo, ficou a sensação de vazio, foi o último encontro da turma e a família deu tchau, desejou sucesso e partiu.
Eu fiquei aqui, com minhas limitações, com meu desejo de fazer aqueles quatro anos valerem a pena de verdade, com meus planos e com os planos de Deus.
A vó também me deu tchau mas recitou um versinho:
"Quando eu me formei
eu tinha 22 ano
Eu não tinha peito
botei peito de pano."

18 de março de 2009

Com suco de laranja

Tenho uma afinidade incrível com a cozinha, porém prefiro almoçar todos os dias no restaurante. Por quilo, o mais barato, evito carne porque pesa, não no estômago, mas na balança.
Pelo menos uma vez por mês me dou ao luxo de almoçar em um restaurante um pouco mais caro, onde é impossível comer ao preço de cinco reais.
Com tanta variedade, pego um pouco de tudo, adoro quando tem frutinhas. Manga, mamão, melancia, é como se fosse uma sobremesa embutida.
Mas o que me deixa furiosa comigo mesma é quando depois de umas cinco garfadas simplesmente perco a fome. As vozes já atormentam:
- Ô filha, está pensando que é a comida da sua avó? Você está pagando. Trate de engolir tudo.
Mas não vai. Deixo lá no prato. Até as frutinhas.
Pago a refeição desperdiçada e vou trabalhar, depois de meia hora no serviço o que sinto?
Fome.

16 de março de 2009

Credibilidade virtual

Eu não entendo o que leva as pessoas a abrirem mensagens de power point no e-mail. Hoje eu abri um, não só abri como fiz tudo que ele mandava, isso porque fui influenciada por uma amiga que também acha ridículo a perda de tempo.
Era um teste que o Dalai Lama formulou. Ele, em um de seus momentos de meditação, pensou: "Formularei um teste para circular na internet."
E é incrível como é de se perceber que o teste tem a cara do Dalai Lama, é bem o tipinho dele. Em determinado momento você diz o que acha do café, e depois descobre que o que você acha do café, é na realidade o que você pensa a respeito do sexo. A minha amiga só acha que com leite é muito bom.
Até agora me sinto mal por ter ignorado a ordem do monge budista e não ter enviado o teste a cinquenta pessoas, é como se eu desvalorizasse todo o tempo que ele gastou na montanha para formular tais perguntas que tão bem revelam a personalidade.
- Michele, quer um cafezinho?
- Não, não gosto...Ou melhor...Deixa aí depois eu tomo.

6 de março de 2009

Como uma deusa

Era o primeiro dia de aula na cidade fria (que hoje, depois de quatro anos, sofre os efeitos do aquecimento global), eu analisava e definia a personalidade de cada integrante da turma. Eis que atrasada, surge uma menina e eu penso: "Parece a Sandy, não pode ser má pessoa com tal feição" e meu poder da mente a fez sentar do meu lado.
Eu parecia ter vindo de uma cidade cercada por aldeias, e tinha a sensação que todos percebiam o quanto eu era jacu, por isso nem me atrevia a puxar assunto.
A menina cabeluda continuou sentando do meu lado, dia após dia e percebi que por mais perfeita que a Sandy fosse, aquela era bem melhor.
Encontrei a irmã que eu queria e a amiga que eu precisava.
Nesses anos foi confortante a ideia de tê-la sempre por perto, e como tudo está mudando, esse privilégio meu também deixará de existir. Nem sempre ela estará aqui para me ouvir ou para falar, falar, falar... Ou para somente ficar do meu lado, sem conversas, como no primeiro dia de aula.
A menina estranha partirá, porque ela precisa.
Eu sentirei saudade, porque a amo.

25 de fevereiro de 2009

Capital

Sinto uma vontade quase que incontrolável de chorar quando preciso ir ao banco, evito ao máximo esse momento, se não há escapatória, lá vou eu, chego na frente do antro do capitalismo e mentalmente faço o sinal da cruz.
Tento passar pela porta giratória em vão , ela me acusa sem misericórdia, deixo minha suposta arma na caixinha e volto a entrar na engrenagem que pode me engolir.
Finalmente dentro do recinto, sinto frio. Meus pés gelam e a coriza toma conta do meu ser, porque não há no mundo lugar mais gelado, que gela o coração dos funcionários.
Depois de muito tempo na fila, evitando qualquer tentativa de amizade chego ao guichê e lá encontro alguém muito mais estressado que eu, mas tento compreender que o ambiente o corrompeu.
- A identidade, por favor.
- Esqueci.

16 de fevereiro de 2009

Renew

Vai chegar um dia em que eu não irei folhear super depressa as páginas de produtos antienvelhecimento da AVON, vou olhar calmamente e comparar os preços.
Quando esse dia chegar quem sabe eu estarei casada com o sujeito que vi na internet, ele imita cem personalidades em um minuto. Imita com perfeição os personagens de desenhos animados.
Já imagino a vida perfeita que terei casada com ele. Todos os dias ele me acordará com a voz do Pernalonga, vai entreter as crianças imitando o Barney, na hora do almoço escutarei: "Atention, tá na horra de matarr a fomê, tá na mêss pessoaaal". Ele me ligará do trabalho com a voz do Mr. Burns e a noite eu pegarei meu catálogo da AVON e escolherei com calma meus produtos, ele ficará do meu lado imitando o Scooby Doo.
Obviamente ele nunca entenderá como é difícil ter que aceitar o envelhecimento e continuará imitando o Scooby Doo.
Ai como ele me irrita. Onde eu estava com a cabeça quando me casei com ele?

9 de fevereiro de 2009

I-VO-VIU-A-U-VA

Era o primeiro dia na pré-escola, minha mãe estava preparada para ouvir meus berros desenfreados.
- Filha, a mãe volta para te buscar ao meio dia tá?
- Tá.
Ela me deu um beijo, soltou minhas mãozinhas e foi. Deu dois passos, olhou para trás e eu estava sorrindo, mais dois passos e eu já tinha me juntado à galera. Aquilo doeu um pouco no coração dela, ela esperava ao menos uma lágrima.
Se hoje ela me deixasse na pré-escola eu choraria. Para provar que sim, tenho sentimentos e porque eu sei que lá eu seria zombada quando aquelas criaturas pequenas descobrissem que a coordenação motora é nula em minhas pinturas a lápis de cor e nas palmas usadas até mesmo para marcar sílabas.
- Filha, você ficou com saudade?
- Olha mãe, desenhei você, o pai e eu...e uma nuvem. Acho que é uma nuvem.

2 de fevereiro de 2009

Presidência póstuma

Estava eu, pensando apenas em encontrar um dublê para me substituir na cozinha enquanto eu aqui existir, era minha única preocupação do dia. Até que chego em meu trabalho, posiciono o microfone, limpo a garganta e leio a notícia: "Sarney é eleito presidente do Senado". Ao perceber o grande equívoco do Diretor, paro a gravação, vou até ele e afirmo, com a tranquilidade de quem sabe o que fala, que o Sarney morreu.
É claro que ele morreu, eu me lembro, não com exatidão, mas me lembro de ouvir o Plantão da Globo anunciando a perda de um grande nome da política.
O Diretor, educadamente, provou-me o contrário do que eu afirmava. Sim, eu vi sites credíveis destacando a mesma notícia, mas não adianta, eu sei que ele morreu. É ridículo pensar assim, mas acho que existe um acordo em que todos afirmam que ele está vivo para que eu passe por louca.
Eu também vou fazer todos acreditarem que sei cozinhar.

27 de janeiro de 2009

Profana

Quando entro na internet me sinto mal, a pior das criaturas, isso porque perdi meu mouse pad e juro que tentei adaptar com várias coisas, mas a única textura que o mouse aceita é a da Bíblia. Sim, estou usando a Bíblia Sagrada no lugar do mouse pad. Só me sinto menos culpada quando trava o computador e eu leio alguns versículos.
Tenho a mesma sensação de culpa quando sinto raiva dentro da igreja, é uma raiva boba da pessoa que fica batendo o pé naquela madeira de se ajoelhar, para mim é como se a igreja toda estremecesse.
Mas aquela senhora que não para de se abanar do meu lado, com o folhetinho da Missa é quem mais me irrita, o folhetinho tem algo de sagrado, não é abanador (Não tem absolutamente nada a ver com o caso do mouse pad) e o calor nem é tão insuportável nas igrejas dessa cidade.
- Nossa, mas como está calor né?
- É... Imagina no inferno.

21 de janeiro de 2009

Antes do último suspiro

Hoje cedo tentei tomar um comprimido sem a ajuda da água, no seco, já tinha feito isso antes, mas dessa vez não consegui engolir, senti que a drágea de diclofenaco ficara entalada em minha garganta, eu a sentia ali, imóvel, não havia produção de saliva suficiente para fazê-la descer.
Eu pensava: "Ou me levanto e vou até a cozinha tomar um copo d'água ou continuo aqui no aconchego da minha cama esperando ela derreter em minha garganta."
Senti falta da presença materna. Eu poderia gritar:"Mãe! Socorro! Traz água e caso não chegue a tempo quero doar meus órgãos".
Enquanto eu agonizava sufocada pelo comprimido, pensava que minha avó sempre diz para não dar ouvidos para a preguiça, pois a preguiça é a filha mais velha do Demônio.
A filha mais velha do Demônio foi vencida pela completa falta de ar. Fui, quase que me rastejando até a cozinha e com um imenso copo d'água fiz a estúpida pílula encontrar seu caminho. Sentindo novamente o ar entrar em meus pulmões voltei a dormir.

15 de janeiro de 2009

Selva de Pedra

Estava ali, eu, com meus poucos centímetros de comprimento, fingindo que dormia em um cestinho macio, na verdade eu observava a mulher do meu lado, a mesma que diariamente mexia a boca de um jeito estranho e pedia para eu repetir: Ma-mãe. Eu não repetia, sabia que ainda não era necessário. Mas então, como ia dizendo, eu observava a mulher que olhava fixamente para o que hoje sei que se chama televisão. Eu não conseguia compreender, não entrava em minha desproporcional cabeça o interesse pela novela. Enquanto eu pronunciava um Bu bu bu, ela virava rápido e perguntava com uma voz diferente: "Você tá conversando neném?" Eu gritava por dentro: "Sim! Me ouça! Isso é estúpido, tão previsível, sei que crescerei e as histórias serão as mesmas e olhe para você, está viciada e as conversas cotidianas estão limitadas a um mesmo assunto. Bu bu bu."
A mesma mulher me aconselhou, anos mais tarde, a não perder tempo com essas mediocridades da TV. As palavras ininteligíveis dos bebês atuam de forma discreta e a longo prazo no subconsciente.

12 de janeiro de 2009

Sete, oito, dez indiozinhos...

Eu juro que não sei como começou, mas faz tempo que passei a atribuir um valor mágico ao número nove. Percebi que só consigo fazer um texto novo se recebo nove comentários, se passa disso me dá uma aflição, uma sensação de incopetência, um vazio. Com menos disso o cérebro dorme mais do que costuma dormir. Não acredito em numerologia, mas ontem, só por curiosidade boba, resolvi calcular meu número da sorte. Era simples, só somar cada número da data do nascimento:
1+0+1+1+1+9+8+6 = 2+7 = 09
Isso me assustou.
Peço que me ajude a superar esse mal, se acaso um dia, você for o nono a comentar aqui, dê um Ctrl V e deixe dois comentários, assim pulará do oito para o dez. Não importa o quanto isso me afligirá, se meus olhos começarão a piscar freneticamente ou se balbuciarei palavras indecifráveis por vários minutos, independente das reações, preciso me curar de alguma forma.
- Sim senhora Michele, marcarei para amanhã, sua terapia começa... Vejamos... Às nove horas. Pode ser?

6 de janeiro de 2009

Faz de mim estrela, que eu já sei brilhar!

Estava tudo certo, tudo bem planejado, tudo indicava que eu iria sim, atuar no novo filme da Xuxa, mas não deu certo.
O regulamento da Promoção dizia para comprar sete reais em produtos Nestlé. Lá fui eu, manipulada por uma promoçãozinha medíocre, comprar cereal e inteirar com uma bolachinha que eu nem gosto tanto e grito para o mundo inteiro ouvir que EU PREFIRO LACTA!
Ao caminhar até o caixa eu só conseguia me imaginar vestida de duende ao lado da Xuxa, seria fantástico! Era só esperar a nota fiscal e anotar o código que...Não saiu! Não funcionou! Minha tentativa de protesto foi em vão. Fiquei frustrada, acabara de perder a oportunidade da minha vida e ainda uma viagem de navio. Dane-se a viagem de navio, eu tenho náuseas.
Mas sabe que ao comer o cereal as coisas se clarearam em minha mente. Foi a Xuxa! Sim, foi a Xuxa e aquele pacto imbecil dela que me impediram, afinal a Rainha teria o seu brilho ofuscado por mim.
Certeza que a Sasha vai ganhar a promoção.

1 de janeiro de 2009

Juninho

Minha avó diz que, há muito tempo, eu passava grande parte do dia conversando com uma menininha que adorava brincar na areia. A família se preocupava com minha sanidade, porém ninguém ousava contestar a existência da minha filha.
Não me recordo de nada disso, nem sei em que momento a menininha foi embora, o que importa é que seu lugar não ficou vago, quem ocupa é meu filho de sete anos, hiperativo, inteligente e com grande talento artístico.
Hoje eu tenho lucidez suficiente para entender que ele é apenas fruto da minha imaginação, e afinal eu sei controlá-lo, o coitadinho nem me atrapalha.
- Sai filho, vai brincar, mamãe está escrevendo.