7 de julho de 2013

Cadáver de pirilampo

Pelo fato de eu ser radialista, o ideal seria eu respeitar o gosto musical de todos e nunca falar mal de uma música. Mas para! Eu não consigo entender a letra de algumas novas canções e preciso desabafar.
Como assim "Vou caçar mais de um milhão de vagalumes por aí pra te ver sorrir”? Como assim?
O cara chega à casa da mocinha dirigindo um caminhão com uma carga de aproximadamente cinco mil quilos de insetos e diz:
- Amor, cacei esses bichos pra você. Demorei bastante pra conseguir juntar um milhão, estão mortos, mas são seus.  Gostou?
Quem sabe o chilique nervoso da mina, faça com que ela dê gargalhadas involuntárias, mas feliz ela não ficará. Onde ela vai guardar aquela bicharada morta?
No fundo ela entende que o cara queria que os bichinhos acendessem o popô, pensando assim, ela sente mais raiva ainda por ter um sujeito tão jumento no seu pé.
Eu nem vou entrar na parte que ele diz que pode colorir o céu de outra cor, porque eu realmente não quero saber que poluente a anta vai tentar usar.

9 de junho de 2013

E agora?

"Quer abrir a porta? Não existe porta!"
Poderia ser poético se não fosse o atual drama da minha vida. Pois bem, eu tenho um quarto e ele tinha uma porta. Um belo dia minha mãe pensou: "Será que compro alface pro almoço ou mando trocar essa porta de lugar?" Chamou os pedreiros.
Há vinte anos eu tenho entrado no meu quarto pela mesma porta que agora é uma parede com um quadro de paisagem. Enquanto erguiam tijolos na antiga porta eu só pensava: "Vou bater a testa, vou bater a testa, vou bater a testa". Lógico que eu bati a testa. Não pra entrar, mas pra sair do quarto, de madrugada. Eu só queria fazer xixi, estava confusa e a luz havia queimado. No escuro, a minha mão frenética tentava pegar a maçaneta, não tinha maçaneta! Tropecei numa caixa grande cheia de calçados e caí, bati a testa na parede e entendi: "A porta estava em outro lugar".
Aos poucos vou me acostumando, mas sei que a qualquer momento surgirá a próxima dúvida: "Pinto a unha de vermelho ou troco essa privada de lugar?"

7 de março de 2013

Letras douradas num papel bonito


Eu não queria escrever sobre o dia da Mulher porque não gosto de textos sazonais e não posso nem começar a falar sobre direitos da mulher, pois a Revista TPM me deixou tão feminista que tenho a impressão que às vezes irrito as pessoas com esse papo. Mas gente! Em pleno século 21 a mulher que bebe é considerada sem valores, enquanto o homem pode beber porque é muito macho... Ai. Tá. Parei.
Esquece isso, tem mulher que não vale nada. Tipo a mulher da música do convite de casamento. Que puta falta de sacanagem! Eles cresceram na mesma rua, ele foi o anjo guardião dela, não teve coragem de assumir a paixão e ficou ali na Friendzone. Ela sabia que ele era apaixonado porque mulher não é boba e mesmo assim mandou um convite de casamento! Que isso, minha amiga?
E aquela outra que fez o rapaz deixar de ser cowboy por ela? Tudo bem que ele fez um favor pra sociedade e pra ele mesmo deixando de ser cowboy, mas justamente por ele não ser mais cowboy ela resolveu abandoná-lo? Decida-se, vadia!
Um abraço a todas as mulheres.

13 de fevereiro de 2013

Doce Infância


Hoje eu acompanhei minha afilhadinha em seu primeiro dia de aula. Ela não chorou, mas ficou bem assustada com tanta informação para processar. Segurou bem forte sua boneca e ficou lá, sentadinha, esperando a aula começar. Lembrei-me do meu primeiro dia, talvez segundo ou terceiro, mas me lembro claramente de tentar interagir com todas as minhas forças. Estava lá, um bando de meninas descontroladas dando tchau pro tio da Kombi. Eu nem sabia pra quê servia a Kombi, meu pai me buscava de bicicleta. Mesmo assim tentei me socializar, entrei no meio do alvoroço e gritei também: “Tchau tiiiio!” Elas ficaram em silêncio e me olharam. Uma delas, a loirinha disse: “Você nem é da turma da Kombi”. Eu deveria ter pisado no pé dela, mas não, fiquei sem forças e só falei: “Deixa, nem ligo” e continuei acenando pro tiozinho de bigode. Eu não me vinguei na época, mas hoje, se alguma loirinha exibida excluir minha afilhadinha, eu juro que... Ai, gente, não faço nada. Imagina.
-Opa! Caiu! Coitadinha! Tropeçou é?

4 de fevereiro de 2013

Olfato nostálgico


Crianças tentam se matar involuntariamente o tempo todo. Correm riscos a torto e a direita.
Lembro que eu ganhei uma boneca que vinha com uma mamadeirinha que tinha leite de verdade, pelo menos parecia de verdade. Daquelas que quando vira, o leite some e parece que a esfomeada boneca bebeu tudo. Mas eu não era besta e sabia que havia um mecanismo, só precisava mesmo abrir para entender seu funcionamento e experimentar o leite para saber se era de caixinha ou pasteurizado.
Tentei abrir, não consegui. Peguei martelo. Tentei não causar estragos, mas causei. Quebrou. Um cheiro forte impregnou meu quarto e percebi que aquele cheiro não era de leite. Pensei: ”Vou provar”. Provei, era horrível. Limpei depressa, antes da mãe chegar.
Semana passada, em frente a uma construção, senti cheiro de leite de boneca. Resolvi investigar e descobri que aquilo realmente não era leite. Era cal.
Agora eu penso: quem tinha menos juízo? Eu ou a fábrica de brinquedos do Paraguai?
Fiquei parada por um tempo sentindo o cheiro de cal e lembrando coisas felizes.
Cal me lembra infância.