Saudades do sol redondo

Hoje em dia, quando conheço alguém que já teve passagem pela polícia, procuro não olhar com discriminação, mas com piedade, sei que não é fácil voltar a normalidade depois de sofrer humilhações.
na semana passada, uma certa casa foi roubada, haviam três suspeitos, sendo dois carregadores de mudança, pais de família, um deles evangélico, trabalhadores, e eu, menina morena com uma cicatriz na canela. Óbvio que eu era a maior suspeita.
Juro que não fui eu, mas tive medo. Se eu não tivesse assistido tanto a Malhação, poderia ficar mais calma, mas eu sabia que um deles colocaria o dinheiro em minha bolsa e eu passaria o resto da minha vida atrás das grades, fazendo tatuagens sem qualquer preocupação com higiene, pintando frutas em panos de prato, cavando túneis e esperando ansiosamente o meu aniversário para receber das mãos de minha mãezinha o bolo recheado com um revólver. Muitas coisas passaram em minha mente.
Fui revistada e não encontraram nada, mas nos olhos do policial eu li a frase: "É bom que eu não te encontre por aí."
-Tem algo que você exija que tenha em sua cela?
-Um abajour cor de carne e um lençol azul.