6 de novembro de 2007

Paranóia

Os jornais noticiam o aumento e a aceitação dos transgênicos.Helena decide ter qualidade de vida: “Consumistas sem consciência, onde chegaremos?”
08:30 da manhã, belo domingo ensolarado, dia de começar a se alimentar bem.
Helena, ainda com suas pantufas de Pantera cor de rosa, se dirige a geladeira, pega a caixinha de leite, “nada mais saudável”pensa ela, até olhar o minúsculo numero embaixo da caixa, número 5 , “como assim?leite 'reciclado' cinco vezes? Logo cedo se envenenar com tanto conservante?Melhor tomar café puro...Ah sim, muita cafeína que desencadeará em um vício, logo passará pro cigarro.”
Ainda bem que Helena adora chá de Erva Cidreira, com bolacha recheada. “Recheada de corante nem pensar, pão integral com margarina...Meu Deus, estou praticamente comendo plástico!” Helena se preocupa.
Ela não desiste de seu dia consciente, tira suas pantufas e calça um confortável tênis, tênis daquela marca que utilizava mão de obra infantil, a consciência pesa: “o tênis velho nem está tão acabado assim.”
Enquanto caminha ela pensa no que precisa mudar. Tanta coisa,Helena, com 17 anos é como todas as adolescentes, vítimas da mídia que impõe um consumo desenfreado, que mostra o valor da pessoa através da marca que ela usa. “Até o natal perdeu seu sentido, quando teremos um comercio justo e solidário?” indigna-se a jovem.
Chegando em casa nem dá vontade de ligar a TV. Bem acomodada lê um livro, o tempo passa, já dá para sentir o cheiro do almoço preparado pela mãe, cheiro de bife sendo frito...”pedaço de um indefeso animal que sofreu muito em um abatedouro fétido, e toda essa angustia alojada naquele bife, sem falar na grande quantidade de antibióticos que aplicaram no animal, tudo isso diariamente vem parar no meu organismo e ainda com bastante gordura, é como suicidar-se lentamente, mas por hoje não” reflete Helena.
A família acha no mínimo estranho a menina rejeitar a carne, a batata frita, o refrigerante, ela mesmo prepara um suco de laranja para acompanhar seu prato de arroz com salada.
Para um passeio em família e a garantia de um domingo feliz, todos se arrumam para ir ao circo que chegou na cidade, tão anunciado espetáculo, com ferozes leões, grandes ursos e elefantes...”que são maltratados em um adestramento que inclui chicotes, queimaduras, jaulas 'aconchegantes', seria certo eu contribuir com essa tortura?” pensa um pouco e não vai ao circo., mesmo gostando de palhaços.
As vezes é bom ficar sozinha, trocando os canais da televisão, tudo a mesma coisa, horário político...”odeio política” resmunga, porem volta atrás: “ Eu, querendo me tornar uma pessoa consciente, não passo de uma analfabeta política do Bertold Brecht.
Helena fica confusa, precisa dormir, está determinada a mudar, mas não de uma hora para outra, é preciso cautela, até quando se trata de salvar a saúde e a humanidade.

Um comentário:

Cris F. disse...

senti como se eu fosse sua personagens...
com a pequena diferenças das pantufas rosas serem apenas gatos, não panteras...