Crianças tentam se matar involuntariamente o tempo todo. Correm riscos
a torto e a direita.
Lembro que eu ganhei uma boneca que vinha com uma mamadeirinha que
tinha leite de verdade, pelo menos parecia de verdade. Daquelas que quando vira, o leite some e parece que a esfomeada boneca bebeu tudo. Mas eu não era besta e
sabia que havia um mecanismo, só precisava mesmo abrir para entender seu
funcionamento e experimentar o leite para saber se era de caixinha ou
pasteurizado.
Tentei abrir, não consegui. Peguei martelo. Tentei não causar
estragos, mas causei. Quebrou. Um cheiro forte impregnou meu quarto e percebi
que aquele cheiro não era de leite. Pensei: ”Vou provar”. Provei, era horrível.
Limpei depressa, antes da mãe chegar.
Semana passada, em frente a uma construção, senti cheiro de leite de
boneca. Resolvi investigar e descobri que aquilo realmente não era leite. Era
cal.
Agora eu penso: quem tinha menos juízo? Eu ou a fábrica de brinquedos
do Paraguai?
Fiquei parada por um tempo sentindo o cheiro de cal e lembrando coisas
felizes.
Cal me lembra infância.
Um comentário:
Texto muito bom. Imaginei você criança comendo cal! e sabe que eu pensei nisso esses dias? como a infância é uma fase muito perigosa. Adorei seu blog e textos. Um beijo.
Postar um comentário