28 de agosto de 2008

Mutante

Será que é difícil para todo mundo se comportar como uma mocinha? Não consigo perder o costume de vir para o trabalho chutando pedras, é uma meta, tento chutar a mesma pedra no maior trajeto possível, se ela vai para o cantinho do meio fio, lá vou eu tirar ela de lá, com o pé é claro, isso quando não chuto o ar ou a calçada.
Mas o que me faz sentir a necessidade de praticar ioga é minha facilidade em quebrar pequenos objetos, dos outros. Simplesmente não consigo controlar minha força.
Um dia desses acordei com esse dom a flor da pele. Na casa de uma amiga encontrei um chaveiro com água melequenta dentro (Santo Deus! Que invenção medíocre!) Juro que foi uma apertadinha só no olho do sapinho e já senti uma gosma escorrendo entre meus dedos, fiquei extremamente constrangida e deixei lá para que o proprietário achasse que foi obra da natureza. Poucos segundos depois estava em minhas mãos um objeto de outra pessoa, objeto de grande valor afetivo envolvido em elásticos decorativos (Se o elástico não serve para nada então por que existe?) Partindo do pressuposto que todo elástico estica, puxei, é óbvio que arrebentou. Mais uma vez, em um ato de covardia, larguei o objeto e logo depois ouvi a dona culpando outra pessoa, ninguém acredita que tamanha força emana de alguém do meu tamanho.
Me coloco à disposição daqueles prejudicados, só imploro piedade, não sou má, apenas não sei dominar minhas habilidades.

27 de agosto de 2008

Novas tendências

Quando eu tiver uma TV digital gravarei meus programas preferidos para assistir depois de me aposentar;
Quando eu tiver uma máquina de teletransporte irei para o Texas;
Quando eu tiver o licor da invisibilidade passarei um dia com a Sandy;
Quando eu tiver a máquina do tempo irei para os anos 60;
Quando eu tiver um mouse sem fio passarei na barriga;
Quando eu tiver um celular com TV assistirei Pantanal;
Quando eu tiver um carro com nitro baterei rachas;
Quando eu tiver uma frigideira com tampa fritarei linguiças;
Quando eu tiver um choffer irei na Broadway;
Quando eu tiver um filho encaparei os cadernos dele.
Só quero descobrir a verdadeira face da sandy, só isso.

19 de agosto de 2008

Tangente

Duas coisas me assustam muito: A garrafa térmica fazendo tssss (barulhinho que faz por estar mal fechada) e a matemática.
Convivo com mais de trinta pessoas que amam matemática, ou pelo menos fingem que amam, pois não é possível que alguém se divirta com números.
Algumas continhas são necessárias na vida de uma pessoa, me sinto mal por não dominá-las, mas por que não ignorar o resto? Devo respeitar os adoradores de tal matéria, eu sei, mas é tão injusto que eles saibam e eu não, será que existem pessoas que gostam de matemática e português ao mesmo tempo? Eu acho que não, as duas partes do cérebro entram em conflito, um dia uma mulher morreu.
Ontem precisei fazer uma continha boba e obviamente não consegui, precisei de meia hora de explicação de um desses zumbis da matemática. Como imagina que eu me sinto em relação a essa dificuldade? Era realmente bem mais simples que você possa imaginar.
-Mamãe, quanto é 6 x 7 ?
- Espera filha, eu acho que a garrafa térmica explodiu.

13 de agosto de 2008

Enrubescimento

Eu gosto da chuva, ela me deixa feliz, respiro melhor, durmo melhor, mas não sei administrar as situações nos dias chuvosos.
Quando ando calmamente pela cidade com meu guarda-chuva, apenas percebo que parou de chover horas depois, o sol já brilha forte e eu ainda seguro uma armação revestida com aquela lona preta sobre minha cabeça.
Há algum tempo, hoje na verdade, a chuva pregou-me uma peça. Estava eu a percorrer caminhos de rotina no trabalho, quando ao avistar uma escadinha pensei: "Não gosto de escadinhas, descerei pela rampinha". Sim! A rampinha estava molhada e eu caí.
Em alguns segundos vi o mundo girar, escutei interjeições de medo e preocupação, senti a fragilidade das minhas nádegas e a capacidade de ruborização da minha face.
Sei que amanhã choverá novamente e cairei em outra armadilha da mãe Natureza.

8 de agosto de 2008

Crise existencial

Estou me recompondo de um momento de pânico ao analisar uma possibilidade.
Todos os dias no mesmo horário eu passo em frente ao banco Itaú e percebo a presença de alguns jovens que abordam pessoas para oferecer um dos serviços do banco. Eu nunca fui abordada, pois não faço parte do público-alvo, que deve compreender a faixa etária de trinta anos ou mais.
Fiquei pensando que é possível que eu continue fazendo aquele trajeto por algum tempo e chegará um dia em que estarei caminhando tranquilamente e de repente uma mocinha dirá: "Bom dia senhora, gostaria de conhecer as vantagens do nosso serviço?".
A princípio olharei para os lados certa de que outra pessoa foi abordada, mas não verei ninguém, apenas a mocinha com os olhos fixos em mim.
Nessa hora não responderei nada, simplesmente olharei para ela e entenderei que envelheci. Passará um filme em minha cabeça, lembrarei da faculdade, em bons momentos, pensarei nas metas que não foram cumpridas, que será a hora de começar a usar produtos para linhas de expressão e cairá uma lágrima.
- Senhora?
- Hum? Não, não, obrigada.
Seguirei minha vida.

5 de agosto de 2008

O dia depois de amanhã

Eu estava pensando que está prestes a chegar o dia, que para mim, é o mais esperado do ano, há sete anos contemplo esse dia e sei que em pouco tempo ele não existirá mais. Mas não vale a pena lamentar o futuro, o que importa é que em pouco tempo vivenciarei o dia 08/08/08.
É um dia mágico, em que esqueço qualquer problema, em que vivo e não tenho a vergonha de ser feliz, minhas esperanças se renovam, nesse dia eu até esqueço as preocupações que tenho em relação ao Joãzinho. É, eu penso muito no Joãozinho, aquele das piadas, já fui indiferente um dia, até que alguém que também pensa nele, abriu meus olhos. Quero muito saber o que aconteceu com ele, as pessoas contam suas histórias e nem ligam para a existência daquele que hoje deve ser um pai de família que frequentemente comparece na escola do filho, ou talvez nem tenha se casado, é difícil acreditar que ele tenha aprendido a lidar com as mulheres. Ele era inteligente, isso indica que hoje ele seja um grande empreendedor ou um grande golpista.
Meu ano seria perfeito se no meu dia preferido eu me encontrasse com o João.