Eu não poderia começar um texto sem explicar por que não escrevo mais. Eu escrevo. Escrevo sobre bois, soja, inseminação artificial em vacas, plantio direto com braquiária, essas coisas. No resto do tempo eu escrevo sobre moda, assisto reality show de drag queens, lavo louça, faço exercícios da faculdade à distância, pago contas, planejo meu casamento, falo sobre o casamento e frequento palcos, se tem uma coisa que eu gosto é de palco.
A última experiência foi meio assustadora. Era um show de mágicas. Eu não gosto de mágicas, odeio ser enganada, mas até queria ser chamada no palco, porque adoro palcos. Queria ter participado dos primeiros truquinhos baratos, aqueles de cartas, mas não. Fui chamada pro último espetáculo, aquele em que o mágico atravessa uma espada no pescoço da vítima. Eu era a vítima e estava ali com um cara estranho na minha frente, falando umas baboseiras e ameaçando enfiar aquela coisa afiada no meu pescoço. Eu sorria e enquanto sorria só conseguia pensar na manchete dos principais jornais do Brasil no dia seguinte: "Jovem morre ao ser vítima de erro em show de mágicas".
Esse pensamento me atormentava tanto que tive que me distrair pensando em outra coisa. Pensei em música, me veio aquela canção que diz: "Eu poderia estar agora em um módulo lunar (...) mas eu prefiro estar aqui, te perturbando, domingo de manhã". Pensar nessa música me fez rir de verdade. Por que um bosta de um sujeito que incomoda alguém num domingo de manhã, poderia estar em um módulo lunar? E mesmo se fosse Testemunha de Jeová, por que estaria na lua? Enfim, analisar canções me irritam e me divertem ao mesmo tempo. A mágica deu certo. Não morri. Percebi pelo barulho da espada encolhendo que era mesmo um truque besta, como toda mágica. Uma mágica boba como qualquer música da dupla Marcos e Belutti.
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