"Quer abrir a porta? Não existe porta!"
Poderia ser poético se não fosse o atual drama da minha vida. Pois bem, eu tenho um quarto e ele tinha uma porta. Um belo dia minha mãe pensou: "Será que compro alface pro almoço ou mando trocar essa porta de lugar?" Chamou os pedreiros.
Há vinte anos eu tenho entrado no meu quarto pela mesma porta que agora é uma parede com um quadro de paisagem. Enquanto erguiam tijolos na antiga porta eu só pensava: "Vou bater a testa, vou bater a testa, vou bater a testa". Lógico que eu bati a testa. Não pra entrar, mas pra sair do quarto, de madrugada. Eu só queria fazer xixi, estava confusa e a luz havia queimado. No escuro, a minha mão frenética tentava pegar a maçaneta, não tinha maçaneta! Tropecei numa caixa grande cheia de calçados e caí, bati a testa na parede e entendi: "A porta estava em outro lugar".
Aos poucos vou me acostumando, mas sei que a qualquer momento surgirá a próxima dúvida: "Pinto a unha de vermelho ou troco essa privada de lugar?"