Eu estava aqui
comendo um sorvete seco e pensando que tem um tempo na vida que é bem difícil.
Não é infância nem adolescência, é a transição dessas duas fases. Quem
dificultava minha vida nessa época eram os adultos.
Que momento
constrangedor a hora de cantar parabéns em uma festa infantil onde os adultos
falavam: “Crianças, se juntem atrás do bolo para tirar foto”. Eu tentava não
ser notada, afinal eu não era criança, eu era bem mais evoluída que aqueles
pirralhos cheios de verme, mas a tia me empurrava para a cena em questão. Eu me
juntava às adoráveis crianças, tentando controlar meus braços que eram desproporcionais
ao resto do corpo e saía na foto com cara de blasé, que só queria mesmo comer
os brigadeiros e ir embora escrever no diário que ninguém me entendia.
No fundo eu também
não sabia se eu queria ser criança ou adolescente, afinal eu ainda gostava de
banho de chuva, mas os adultos deveriam me deixar decidir que hora eu seria criança
e que hora eu não seria. E nunca dizer que Fulana era minha “amiguinha” da
escola, e nunca fazer a tenebrosa pergunta: “E os namorado?”.
Aliás, as tias me fazem essa pergunta até hoje.
Tem alguma coisa errada e estou começando a achar que o problema não é com as tias.