27 de maio de 2009

Teste oftalmológico

- Michele, nós temos aqui quatro círculos, sendo três fechados e um aberto. Quero que você me diga onde está o círculo aberto.
- Em cima?
- Não.
- Em baixo?
- Não.
- Na esquerda?
- Não.
- Então não sei.

25 de maio de 2009

Maria, você não é uma planta.

Agora não há mais nada que eu possa fazer. Ela se foi, a planta morreu.
Lembro-me de quando a ganhei, foi um presente de formatura, ela era tão delicada. Quando a peguei percebi que ela tinha certo pânico no olhar, parece que sabia que eu não teria responsabilidade suficiente para mantê-la viva e florida.
Nos primeiros dois dias eu dei água, depois esqueci a pobrezinha na minha sacada passando sede, se ela tivesse pernas teria se jogado.
Mas não adianta chorar a planta ressequida. Não quero que isso me faça pensar que não serei uma boa mãe. A planta não era minha filha.
Um dia terei uma filha de verdade, ela se chamará Maria. Terá uma infância feliz e poderá andar descalço quando quiser, não terá aulas de pintura e nem fará natação. Na adolescência ela não será igual as amigas chatinhas dela, terá personalidade, por isso não estranharei quando ela me disser: " Mãe, não quero uma festa de quinze anos, prefiro um galinho que muda de cor quando vai chover."

19 de maio de 2009

Divã

Fale de você até se cansar, mas não me peça para falar de mim. Por que me torturar? O que eu te fiz?
Independente do que eu falar, não é por palavras que irá me conhecer.
Gosto de suco de goiaba, mas não de goiaba. Tenho facilidade em encontrar defeitos nas pessoas, mas só em algumas, em outras, por mais que me apontem, eu não encontro.
Gosto de procurar meu nome nos créditos dos filmes. Penso bastante na minha aposentadoria. Às vezes fujo do presente e vivo o passado ou o futuro, no futuro sempre sou feliz, no passado, nem sempre. Não gosto de dormir no silêncio absoluto. Pretendo praticar exercícios físicos depois dos cinquenta anos. Preciso de alguns personagens para viver em harmonia com os humanos. Classifico as pessoas como coadjuvantes ou figurantes na minha vida. Acredito que roupas estendidas no varal de cabeça para baixo não conseguem respirar. Assim como eu paro de respirar quando falo muito de mim.
Alguém me tira deste varal?

9 de maio de 2009

Espelho

Você fica aí parado me observando, mas sabe, com você eu sou autêntica, às vezes eu nem sorrio ao te olhar, às vezes quando penso em exterminar alguém, é para você que eu olho e respiro violentamente até conseguir fingir serenidade.
Você apoia a vaidade, mas sabe que ela pode ser uma fuga.
E você estava lá quando precisei fugir da maquiagem social.
Você percebe que por fora eu não mudei.
Sinto que quer me dizer alguma coisa, não jogar na minha cara meus erros, mas me mostrar em seu reflexo o que eu não enxergo. Mostrar-me aquele lado bom, dizer o que eu mereço de verdade, você me olha como alguém que sabe do que eu sou capaz.
Nós somos parecidos, somos frágeis.