27 de janeiro de 2009

Profana

Quando entro na internet me sinto mal, a pior das criaturas, isso porque perdi meu mouse pad e juro que tentei adaptar com várias coisas, mas a única textura que o mouse aceita é a da Bíblia. Sim, estou usando a Bíblia Sagrada no lugar do mouse pad. Só me sinto menos culpada quando trava o computador e eu leio alguns versículos.
Tenho a mesma sensação de culpa quando sinto raiva dentro da igreja, é uma raiva boba da pessoa que fica batendo o pé naquela madeira de se ajoelhar, para mim é como se a igreja toda estremecesse.
Mas aquela senhora que não para de se abanar do meu lado, com o folhetinho da Missa é quem mais me irrita, o folhetinho tem algo de sagrado, não é abanador (Não tem absolutamente nada a ver com o caso do mouse pad) e o calor nem é tão insuportável nas igrejas dessa cidade.
- Nossa, mas como está calor né?
- É... Imagina no inferno.

21 de janeiro de 2009

Antes do último suspiro

Hoje cedo tentei tomar um comprimido sem a ajuda da água, no seco, já tinha feito isso antes, mas dessa vez não consegui engolir, senti que a drágea de diclofenaco ficara entalada em minha garganta, eu a sentia ali, imóvel, não havia produção de saliva suficiente para fazê-la descer.
Eu pensava: "Ou me levanto e vou até a cozinha tomar um copo d'água ou continuo aqui no aconchego da minha cama esperando ela derreter em minha garganta."
Senti falta da presença materna. Eu poderia gritar:"Mãe! Socorro! Traz água e caso não chegue a tempo quero doar meus órgãos".
Enquanto eu agonizava sufocada pelo comprimido, pensava que minha avó sempre diz para não dar ouvidos para a preguiça, pois a preguiça é a filha mais velha do Demônio.
A filha mais velha do Demônio foi vencida pela completa falta de ar. Fui, quase que me rastejando até a cozinha e com um imenso copo d'água fiz a estúpida pílula encontrar seu caminho. Sentindo novamente o ar entrar em meus pulmões voltei a dormir.

15 de janeiro de 2009

Selva de Pedra

Estava ali, eu, com meus poucos centímetros de comprimento, fingindo que dormia em um cestinho macio, na verdade eu observava a mulher do meu lado, a mesma que diariamente mexia a boca de um jeito estranho e pedia para eu repetir: Ma-mãe. Eu não repetia, sabia que ainda não era necessário. Mas então, como ia dizendo, eu observava a mulher que olhava fixamente para o que hoje sei que se chama televisão. Eu não conseguia compreender, não entrava em minha desproporcional cabeça o interesse pela novela. Enquanto eu pronunciava um Bu bu bu, ela virava rápido e perguntava com uma voz diferente: "Você tá conversando neném?" Eu gritava por dentro: "Sim! Me ouça! Isso é estúpido, tão previsível, sei que crescerei e as histórias serão as mesmas e olhe para você, está viciada e as conversas cotidianas estão limitadas a um mesmo assunto. Bu bu bu."
A mesma mulher me aconselhou, anos mais tarde, a não perder tempo com essas mediocridades da TV. As palavras ininteligíveis dos bebês atuam de forma discreta e a longo prazo no subconsciente.

12 de janeiro de 2009

Sete, oito, dez indiozinhos...

Eu juro que não sei como começou, mas faz tempo que passei a atribuir um valor mágico ao número nove. Percebi que só consigo fazer um texto novo se recebo nove comentários, se passa disso me dá uma aflição, uma sensação de incopetência, um vazio. Com menos disso o cérebro dorme mais do que costuma dormir. Não acredito em numerologia, mas ontem, só por curiosidade boba, resolvi calcular meu número da sorte. Era simples, só somar cada número da data do nascimento:
1+0+1+1+1+9+8+6 = 2+7 = 09
Isso me assustou.
Peço que me ajude a superar esse mal, se acaso um dia, você for o nono a comentar aqui, dê um Ctrl V e deixe dois comentários, assim pulará do oito para o dez. Não importa o quanto isso me afligirá, se meus olhos começarão a piscar freneticamente ou se balbuciarei palavras indecifráveis por vários minutos, independente das reações, preciso me curar de alguma forma.
- Sim senhora Michele, marcarei para amanhã, sua terapia começa... Vejamos... Às nove horas. Pode ser?

6 de janeiro de 2009

Faz de mim estrela, que eu já sei brilhar!

Estava tudo certo, tudo bem planejado, tudo indicava que eu iria sim, atuar no novo filme da Xuxa, mas não deu certo.
O regulamento da Promoção dizia para comprar sete reais em produtos Nestlé. Lá fui eu, manipulada por uma promoçãozinha medíocre, comprar cereal e inteirar com uma bolachinha que eu nem gosto tanto e grito para o mundo inteiro ouvir que EU PREFIRO LACTA!
Ao caminhar até o caixa eu só conseguia me imaginar vestida de duende ao lado da Xuxa, seria fantástico! Era só esperar a nota fiscal e anotar o código que...Não saiu! Não funcionou! Minha tentativa de protesto foi em vão. Fiquei frustrada, acabara de perder a oportunidade da minha vida e ainda uma viagem de navio. Dane-se a viagem de navio, eu tenho náuseas.
Mas sabe que ao comer o cereal as coisas se clarearam em minha mente. Foi a Xuxa! Sim, foi a Xuxa e aquele pacto imbecil dela que me impediram, afinal a Rainha teria o seu brilho ofuscado por mim.
Certeza que a Sasha vai ganhar a promoção.

1 de janeiro de 2009

Juninho

Minha avó diz que, há muito tempo, eu passava grande parte do dia conversando com uma menininha que adorava brincar na areia. A família se preocupava com minha sanidade, porém ninguém ousava contestar a existência da minha filha.
Não me recordo de nada disso, nem sei em que momento a menininha foi embora, o que importa é que seu lugar não ficou vago, quem ocupa é meu filho de sete anos, hiperativo, inteligente e com grande talento artístico.
Hoje eu tenho lucidez suficiente para entender que ele é apenas fruto da minha imaginação, e afinal eu sei controlá-lo, o coitadinho nem me atrapalha.
- Sai filho, vai brincar, mamãe está escrevendo.