27 de novembro de 2008

Em uma pensão

Sofrer antecipadamente é algo que sei fazer.
Eu vou chorar. Não sei se será antes, ou será depois, ou será no abraço.
Às vezes paro de prestar atenção no que elas dizem, fico olhando nos olhos de cada uma e pensando como serão meus dias sem elas.
Acompanhei nesses anos cada passo delas, vi cada uma sentindo saudade, dor, alegria, euforia, raiva...e agora eu não vou mais acompanhar de perto, não vou estar perto quando elas conquistarem o auge da carreira, não estarei perto quando chorarem de emoção ao realizar um sonho ou assistir um filme.
Quero sim estar perto sempre que puder, quero saber o que se passa mesmo de longe, quero nunca esquecer cada momento, cada palavra, cada expressão.
Eu tinha medo da convivência até conhecê-las. Agora tenho medo da distância.
Pronto, chorei. Eu deixo elas ficarem longe de mim porque desejo o melhor, sempre o melhor. Eu vou ficar por aqui mesmo torcendo e vivendo tudo que me ensinaram.

22 de novembro de 2008

O mundo clama por ela

A menina estranha que tanto me inspira vai para a África.
Era exatamente o que faltava, e já está tudo muito bem planejado, ela fez o cadastro, será voluntária da ONU, aos 25 anos partirá para uma cidadezinha da África, lá cuidará de uma sofredora população que receberá dela comida, diversão e arte.
Às vezes, irá distraí-los com o seu violão, pelo menos enquanto ninguém sentir a necessidade de comê-lo, e será nesses momentos de distração que ela conhecerá um voluntário Australiano e enfim terá a certeza de ter encontrado a pessoa certa.
Isso tudo ela não fará pelo seu mérito, ela apenas precisava de uma causa, e encontrou.
Os exemplos que tenho analisado não são suficientes, preciso achar uma causa para mim. Não vou ensinar pintura em tecido na penitenciária feminina, não vou catequisar canibais haitianos, não vou cuidar de macaquinhos com HIV e não vou dar sepulturas decentes a indigentes. E o fato de não fazer nada disso, não é por má vontade, é porque sei que não sou capaz. Só preciso de uma causa que me motive.

"Voluntária brasileira aprende a cozinhar para salvar crianças da desnutrição."
- Quem diria heim, uma idéia partilhada na mesa do bar...

20 de novembro de 2008

Não desista de seus sonhos!

Uma das minhas funções é procurar diariamente uma mensagem de otimismo, e juro que é o momento mais torturante do meu dia. Entro em um dos sites que o Google indica e espero calmamente a página carregar, e ela carrega, cheinha de flores e anjos envoltos em uma nuvem de glitter.
Mexo o mouse e quem mexe comigo? As borboletas. Cinco borboletas de cores vibrantes me acompanham aonde quer que eu vá.
Enquanto ouço uma rádio, ouço também a linda melodia do site. Não penso muito para escolher, todas as mensagens são iguais.
Eu realmente não sei como cabe tanta informação em uma página, tanta tecnologia para fazer as bailarinas rodarem, rodarem, rodarem...
-Michele, você está cheirando o monitor?
-É... Algodão doce.

18 de novembro de 2008

Contrações

A vó, mesmo sem entender o que de fato estava acontecendo, rezou.
A mãe, preocupada com o coração da menina, desejou que tudo acabasse bem.
O meu problema é pensar demais, se eu colocasse na cabeça que isso era só mais um trabalho como outro qualquer, estaria com minha saúde física e mental em perfeitas condições, mas é claro que eu não sou assim.
"Meu Deus, socorro! É o fim de uma era, esperei quatro anos para que me avaliassem e aqui estou eu, estou mesmo apta a sair da faculdade? Ai, não estou conseguindo respirar! Cadê o pacotinho?"
Nunca tive problemas com apresentações de trabalho, e sei que dessa vez muitos acharam que eu desmaiaria.
Nunca chorei por pouca coisa, e um dia desses a lentidão da internet me arrancou lágrimas.
Nunca me lembrava dos sonhos até acordar no corredor por causa de um braço sangrando na minha cama.
- Fia, como que tá o CCC?
- Continua rezando vózinha.



P.S: Devo comentar aqui que nos últimos momentos da apresentação avisto ao longe uma faixa com a seguinte inscriçao: "Nós lemos o blog Parafusos e Nostalgias". Não gritei, apenas sorri em silêncio.

14 de novembro de 2008

O vírus do asfalto

Eu não queria que isso tivesse acontecido, mas a doença acabou de ser banalizada em minha vida.
Logo no começo do dia, um sujeito tem a capacidade de olhar em meus olhos e afirmar: "Diabete é a dançarina do diabo." Por que comigo Senhor?
Na rua movimentada da cidade, a mulher simpática pergunta:
-Você tem diabete?
Silêncio.
Eu tenho cara de quem tem diabete? Como é cara de diabete?
-Não, não tenho.
- E você conhece alguém que tem diabete?
Esse momento foi complicado, afinal eu conheço sim. Certa vez, uma amiga minha, na companhia de outras meninas, corria à vontade em uma rua particular, ela não se lembra, mas foi naquele dia que ela pegou diabete, depois de um tombo no asfalto. A ferida, juntamente com as pedrinhas ainda estão lá no joelho dela, depois de um ano do ocorrido.
-É...foi lá que ela pegou diabete. Conheço sim.
-Então leva esse panfleto.
Convivo muito com a menina da diabete, espero não pegar também.
A todos um feliz dia da diabete.

10 de novembro de 2008

Arritmia Cardíaca

Enfim, chegou a hora de escrever os agradecimentos no TCC. Transcrevo aqui, na íntegra, o texto que preencherá uma página do tão torturante trabalho:
"Existem duas pessoas muito parecidas a quem agradeço em primeiro lugar: Deus e minha avó, ambas me dão força para enfrentar trabalhos difíceis como este.
Agradeço minha mãe que carinhosamente chamo de Marinoca, que aprendeu a usar o MSN para dizer, nas horas que mais preciso, que sou capaz de qualquer coisa.
Agradeço ao papito por acreditar que eu sou a inteligente da família Espíndola e também à irmãzinha feita por encomenda porque simplesmente aprendi a amá-la muito.
Agradeço a primeira grande amiga Josi (Tantas vezes pensei em fugir para o Texas com ela) .
Agradeço ao meu grupo, que apesar de serem todos tão diferentes, eu não trocaria nenhum integrante, em especial agradeço a Lay, por ser a melhor pessoa abduzida que já conheci.
Agradeço à Camila e a Tisuca por suportarem comigo os transtornos de uma pensão e por agüentarem meu notável mau humor nos últimos tempos.
Agradeço a paciência do Augusto e dos demais moradores da casa da vovó. Às minhas meninas Thalita e Amanda pelos bons momentos.
Por fim agradeço à orientadora e “sogra” Vanessa e a todos os leitores do Parafusos e Nostalgias."

6 de novembro de 2008

Bom velhinho

Querido Papai Noel...

Em um encontro casual conheci sua filha, ela tem um bom coração, não sei se eu saberia dividir meu pai com crianças mimadas.
Eu acho ridículo que você seja lembrado nessa época, falta bastante tempo para o Natal, mas eu tenho medo que a qualquer momento eu vire adulta, eu gosto de ser criança, mas me disseram que criança de verdade passa o Natal com a mãe e brinca até o sol se por na frente de casa, eu tenho preguiça de brincar.
Por isso, aproveito minha infância para fazer meus pedidos costumeiros, já que fui uma boa menina. Peço que desconsidere aquele dia em que fiz uma criancinha travessa tropeçar.
Então, quero te pedir um vídeo game daqueles que a gente se mexe para jogar, luta de verdade e joga tênis, se for muito caro quero um Ovo de Páscoa.
Desde já agradeço. E você já sabe, agora tenho contato freqüente com sua filha, portanto, se acaso eu não obter uma boa resposta para meus pedidos, posso, sem querer, lançar uma sementinha da discórdia, e fazer com que você tenha que se contentar apenas com o amor das crianças mimadas.

4 de novembro de 2008

Maria Sororoca

Não adianta fugir da realidade, antes dos meus 27 anos será perda de tempo enfrentar a cozinha. Eu não sei por que as pessoas insistem em tentar me ensinar, sei que é boa vontade mas não faz bem, nem para mim, tampouco para as pessoas e para a natureza.
Nessa semana alguém aprendeu essa lição.
- Michele, você sabe fazer pipoca?
- Claro que não.
- Então vou te ensinar, coloca o óleo.
- Tá bom!
- Topeira! Não é ovo que você vai fritar!
Pronto, criou um bloqueio, por que essa diferença de quantidade? se tudo levasse a mesma medida, facilitaria minha vida.
- Quantos grãozinhos eu jogo na panela?
- Não sei, é só jogar um tanto que você acha suficiente.
(Como assim? Vou encher a panela então.)
Até aí tudo bem, a panela foi devidamente tampada e o telefone tocou, adivinha quem era? Não me lembro, mas o indivíduo foi atender ao telefone e me deixou sozinha com a pipoca. Sim! Eu fiquei sozinha com a pipoca!
Ela fazia muito barulho, vários estralos e de repente o barulho cessou. Eu achei que depois que silenciava, eu deveria esperar um tempo até a pipoca cozinhar. mas não! Eu não devia ter esperado!
- Meu Deus! Michele, o que você fez?!!!
- Pipoca.